MPF confirma denúncia contra ex-senador por manter funcionário fantasma
julho 26, 2019O Ministério Público Federal (MPF) ratificou a denúncia
contra o ex-senador José Agripino Maia, e outras duas pessoas, por associação
criminosa e peculato. A ação penal original havia sido apresentada pela
Procuradoria-Geral da República ao Supremo Tribunal Federal (STF), no final de
2018 quando ele ainda exercia o mandato no Senado. Agora, que não é mais
parlamentar, o processo tramitará na Justiça Federal de primeira instância no
Rio Grande do Norte.
José Agripino é acusado de nomear e manter como secretário
de seu gabinete em Brasília – entre março de 2009 e março de 2016 - o
“funcionário fantasma” Victor Neves Wanderley (conhecido como Victor Souza),
que era gerente de farmácia em Natal e desde 2017 é presidente da Câmara Municipal
de Campo Redondo. Ele não prestava serviços e repassava a remuneração recebida
do Senado a Raimundo Alves Maia Júnior (conhecido como Júnior Maia, primo de
Agripino e que declarou ser sogro de Victor).
O esquema ilegal foi montado já que Júnior Maia, que prestava
os serviços em Brasília, era servidor da Assembleia Legislativa do Rio Grande
do Norte e, assim, não poderia assumir oficialmente a função no Congresso. O
ex-senador promoveu então a nomeação fictícia de Victor Souza e, durante os
sete anos, a irregularidade custou quase R$ 600 mil aos cofres públicos.
A denúncia do MPF - ratificada agora em primeira instância
pelo procurador da República, Fernando Rocha -, além de pedir o ressarcimento
do valor com correção e juros, requer indenização por danos morais coletivos em
quantia equivalente ao dobro da desviada, bem como a perda do “cargo ou emprego
público ou mandato eletivo” que eventualmente os envolvidos estejam ocupando.
A ação penal destaca que o ex-parlamentar mantinha forte
vínculo de amizade e parentesco com Júnior Maia. Entre 2012 e 2014, foram
identificadas 905 ligações telefônicas entre os dois. A informação é resultado
de quebra de sigilo telefônico autorizada pelo STF. No mesmo período, não foi
identificado nenhum contato entre o então senador e Victor Souza, embora ele
ocupasse formalmente o cargo de secretário parlamentar.
As investigações revelaram que o funcionário fantasma era,
na época, gerente de uma farmácia localizada em Natal e que não costumava ir a
Brasília, onde fica o gabinete do senador. As companhias aéreas questionadas
durante a investigação não encontraram registros de viagens em nome de Victor,
cujo endereço residencial também é na capital potiguar. A análise da frequência
nas folhas de ponto revelou simulação no preenchimento, o que reforçou a
certeza de que ele não cumpria o expediente de 40 horas semanais no Congresso.
Na ação original, a PGR ressaltou a informação de que Victor
Souza confessou ter recebido durante três anos remuneração estadual mensal de
mais de R$ 2 mil sem nunca ter trabalhado na Assembleia Legislativa. Os
indícios referentes a essa ilegalidade ainda deverão ser encaminhados ao
Ministério Público do Estado (MPRN). Outros fatos relacionados ao esquema, e
que possam vir a resultar em novas denúncias, serão avaliados pelo MPF no Rio
Grande do Norte.
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