Um Coração Vegetal *

junho 07, 2020

* Manoel Lourenço / Emater/RN

Quando cheguei em Mossoró na década de 1980, eu conheci uma família que morava no Planalto 13 de maio, um bairro situado no grande Alto de São Manoel.

Seu Doquinha, chefe da família, trabalhava com sua carroça, pegando metralha e ramos de poda de árvores nas casas, para jogá-los fora.

Doquinha conversava muito, principalmente quando dava uns tragos na branquinha, a bem da verdade, com bastante intensidade.

Nas suas conversas, sempre muito compridas vinha sempre à tona a figura de seu vizinho e compadre - seu Feliciano.

Numa de minhas idas à sua casa para convidá-lo a vir retirar restos de poda no meu quintal, sua esposa avisou-me que ele não poderia me atender porque estava visitando o amigo que havia feito uma cirurgia que depois eu soube tratar-se do implante de um marca-passo.

Sempre que a gente se encontrava, geralmente em minha casa, ele me dava notícia de seu compadre Feliciano; eles eram muito amigos.

Outro dia em meio à nossa conversa que aflorava, principalmente, quando a gente sentava pra tomar um cafezinho, me lembrei de seu amigo inseparável:

- Seu Doquinha, como é que vai seu Feliciano?
Não ouvi ainda o senhor falar dele, hoje.

- O sinhô num sôbe não, seu Manel Lourenço? cumpade Feliciano morreu, ômi!!!, era gente boa, me lembro dele todo dia.

- Sabia não, seu Doquinha, mas eu imagino a falta que ele faz ao senhor, que todo dia se sentavam pra conversar; que Deus o tenha...

É quase impossível a gente ouvir falar da morte de alguém, principalmente se tivermos alguma afinidade e a gente não perguntar a causa da morte:

- Seu Doquinha, seu Feliciano morreu "de quê"?

Seu Doquinha esboçando um sentimento forte pela passagem do amigo, quase às lágrimas, disse:

- Seu Manel Lourenço, tem muita conversa pra morte de cumpade Feliciano, mas eu penso que quem matou ele foi um mata-pasto que ele usava no peito.

Manoel Lourenço
Emater/RN
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